Lição Enviada – Quando a Saúde Vem de Dentro

A lição de hoje é do Gilberto Firme, e fala sobre nossa relação com corpo, saúde, mente e objetivos. Muito obrigada, Gilberto!

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Eu passei boa parte da minha vida querendo ter mais energia. Pratico esportes desde os 6 anos de idade e, talvez, por não ser o mais habilidoso do time, sempre buscava me esforçar mais que todos.

Me lembro que sempre na adolescência ficava procurando uma dieta ou dicas para ter mais energia e qualidade de vida. O que eu queria mesmo era ter um corpo que funcionasse com muita disposição, uma verdadeira máquina.

Apesar de estar 10 kg acima do peso, emagrecer nunca foi o meu foco, apesar de achar legal um corpo mais tonificado rs.

Enfim, o tempo passou e me especializei na mente humana, me tornei especialista em entender como as pessoas pensam e a minha maior paixão sempre foi descobrir como alguém conseguia ser bom em algo…

Passei meses estudando como as pessoas que se alimentam de forma saudável pensam, eu queria descobrir como melhorar minha alimentação.

E aí vem a minha maior lição, porque eu sempre pensei que comer bem era algo externo, ou seja, receitas, dietas e cardápios. Mas, eu estava enganado, as pessoas mais saudáveis não comem pelo ‘externo’. Elas seguem seu instinto alimentar (sabedoria corporal).

E eu não apenas emagreci, mas também atingi minha tão sonhada energia física. Acho que parei de me importar com ‘comer certo ou errado’ eu passei a comer o que o meu corpo gostaria que eu ingerisse. E isso mudou tanto a minha vida que desenvolvi toda uma tecnologia para mais pessoas também o fazerem http://www.alimentacaoexcelencia.com.br/ e tenho muito orgulho disso hoje em dia :D,
E-mail: contato@alimentacaoexcelencia.com.br

Site: http://www.alimentacaoexcelencia.com.br/

Coragem, de Coração

Recentemente descobri a etimologia da palavra “coragem”. “Coragem” vem de “cor”, que vem de “cordis” (latim), que significa coração. “Coragem” vem de “coração”.

Mas não apenas isso: coragem não vem apenas de coração, mas também do coração.

Coragem vem do coração.

A coragem não é racionalizada, por mais que seja racional; não é planejada, por mais que seja o que deva ser feito.

A coragem é o impulso, é o pulo, é a força; a coragem é o fim de um caminho e início de outro, é a mudança.

A coragem é não é a cabeça. Não é o cérebro. Não é o que nos faz olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, embora a coragem não nos faça atravessar às cegas.

A coragem não é o pensar, mas sim o saber. É o saber o que deve ser feito. É o saber.

A coragem é a voz constante e ininterrupta. Tampamos os ouvidos, mas lá está ela. Inabalável. Inatingível. Incansável.

Coragem vem do coração. Ponto. Mas, citando Freud em “Civilization and its discontents” (“O mal estar na civilização”), “(…) mas as coisas provavelmente não são tão simples assim, devido às discrepâncias entre nossos pensamentos e nossas ações, e à variedade de nossos desejos“.

Coragem vem do coração. Sabemos disso. Mas, insistentemente e na esperança de sempre sermos racionais, optamos por associar a coragem ao racionalizar, à cabeça.

Assim, permanecemos sendo enganados por nós mesmos. Permanecemos nas sombras. Na caixa.

Mas a voz permanece lá dentro, inabalável, inatingível, incansável.

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Ilustração da maravilhosa Anne Emond

Por algo que nos traga vida

Fuçando nas estatísticas do blog, vejo que o termo mais comum buscado aqui são variações de “você vive ou existe?”. Ao invés de repostas, só consigo pensar em mais e mais perguntas.

Primeiro, o que é viver e o que é existir?

Será que, no fundo, nossa vida não é apenas uma existência procurando desesperadamente por algo que nos faça sentir vivos?

Será que não estamos todos à deriva, sem rumo, sem norte, sem direção? À beira de um colapso, de um surto?

E quando procuramos por algo que nos faça sentir vivos, já não estamos mortos? Aceitar que existe a relação viver x existir já não responde a pergunta: “você vive ou existe?”?

E procuramos tanto, tanto, tanto a resposta em nós mesmos

E procuramos nos outros

E procuramos na ciência, na medicina,

Na terapia, nos remédios

E em mais remédios; em remédios e em doses diferentes

E em mais e mais remédios

Não achamos respostas, nos afastamos das perguntas.

E seguimos assim, em um lento suicídio assistido;

assistido pelos outros e por nós,

nessa tragédia em que ora somos os assassinos e ora os assassinados.

 

E na qual seguimos buscando desesperadamente por algo que nos faça sentir vivos.

 

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artista: yujiro tada

 

 

 

Ímãs

O quadrado, o bloco, o cimento. A rigidez, a linearidade, o lado de dentro da calçada. A obviedade, as cores primárias, o humor plástico, a estabilidade. O concordar, o saber, o mar calmo. A corda, o esperado, a quietude. A morte.

Tudo que quebra e não entorta, tudo que não queima. Todo e em todo dia a dia, tudo que é morno e tudo que se mistura. Tudo que é igual.

Tudo que não é e todas as coisas que nunca serão.

Todo o controle, toda clareza e toda segurança. Toda maturidade.

Tudo que é lindo e linear. Tudo que não me pertence.

eu

*

“Eu, como filho dos donos da casa, pertencia, de imediato, ao mundo luminoso e reto; mas para onde quer que dirigisse a vista ou apurasse os ouvidos, ia dar sempre com o outro mundo e, portanto, nele também vivia, embora quase sempre me parecesse isso estranho e inquietante e acabasse por infundir-me pânico, turbando-me a consciência. Chegou a haver temporadas inteiras em que eu preferia viver naquele mundo proibido, e o retorno à claridade, ainda que necessário e conveniente, chegava a ser para mim quase que um retorno a algo menos belo, mais vazio e aborrecido.

Herman Hesse – Demian

*Alguém sabe a fonte desta imagem maravilhosa?

O buraco negro das recaídas

De repente, toda a luz, alegria, vontade e cores vão embora. Toda harmonia, planos, desejos esgotam-se. Partem como se nunca tivessem existido.

No lugar, a apatia. Não a tristeza, não o choro, não o grito. Não o desespero.

E então você percebe que, pior do que ter os sentimentos que te derrubam, é não tê-los. Percebe que o desânimo não te leva a lugar algum – com ele não há mudança, não há ação, não há controle. O que existe é um ser humano imerso em uma bolha de não atitudes, de não vontades; uma bolha de nadas.

Tento resgatar na minha memória algo que possa me fazer passar por isso. Apenas passar – sem luta, sem sofrimento. Lembro-me de uma fala de um médico “permita-se não estar bem/um dia de cada vez”.

Assim, apenas espero esses dias esvaírem-se e, com eles, todo o sufocamento. Haverá espaço para o ar livre. Para o ar leve. Para o ar puro.

Um dia de cada vez.

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“A cura não é linear”

 

Quem sou eu

Este blog existe há mais de dois anos. Fazendo uma pequena volta no tempo, vejo que o primeiro post foi em janeiro de 2014.

Desde o início, foi anônimo. Nunca tive a intenção de “dar as caras”. Na verdade, o objetivo era exatamente o oposto – queria que, quem acabasse por aqui, encontrasse maior neutralidade possível e não fizesse associação nenhuma para não gerar preconceitos – ou, cabendo melhor aqui, pré-conceitos. Queria que, quem lesse, lesse independente da pessoa que escreve. Sem associações de gênero, de idade, de crenças. De nada.

Porém, muita coisa mudou. Eu já não concordo com muitas coisas que estão escritas enquanto ainda concordo com outras tantas. Então como seria possível manter a neutralidade e, principalmente, manter o blog constante se eu mesma (que escrevia e escrevo) sou o oposto dessas duas palavras?

Manter o blog anônimo, constante (nas ideias) e neutro (nas opiniões) implicaria negar o que sou. Não sou neutra, não sou constante e, principalmente, não sou anônima. Mas não só isso – não falo apenas de mim. A frase certa seria: não somos neutros, não somos constantes e não somos anônimos.

E tentar manter-se nessa redoma de vidro e protegidos do envolvimento não nos fará ser o que somos. Só nos manterá presos em nós mesmos.

E era assim que eu estava – fragmentada em várias Marianas (prazer, Mariana), tentando equilibrar os pratos e deixando todos caírem ao mesmo tempo. Isto porque, embora realmente existam muitas Marianas (e Milenas, Pedros, Carolinas e tantos outros) dentro de mim (e de nós), todas elas estão dentro de mim, e não o contrário. Há dezenas de fragmentos dentro de uma mesma Mariana, e não uma Mariana fragmentada em mil pedaços.

Prazer, Mariana(s).

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“Não enxergava nenhum caminho por onde pudesse escapar daquilo que tanto temia (…) Falava comigo mesmo como se falasse com uma criança assustada, mas a criança não me ouvia, fugia dali, queria viver” – Hermann Hesse, O Lobo da Estepe

 

 

Estranhezas

Às vezes estranho lugares, pessoas, músicas. Não me sinto em casa ainda que esteja, não sinto o acolhimento de amigos ainda que entre eles permaneça e não consigo relaxar ouvindo as melodias que sempre me agradaram.

Estranho os ruídos, as cores, as conversas.

Porém, vez ou outra, encontro-me estranhando a quem não deveria me causar estranhamento. Encontro-me fora de onde não posso fugir. Encontro-me distante de onde nunca deveria ter saído de perto.

Vejo-me longe de mim mesma, distante de quem eu sou. Mas quem sou eu, afinal? Sou a pessoa que ficou para trás ou a pessoa que se afastou?

E, se me afasto de mim, de quem me aproximo? Mas, sendo eu mesma a pessoa a se afastar, permaneço ainda comigo? Comigo, e longe de mim?

“Bem, veja um animal qualquer, um gato, um cachorro, um pássaro ou um desses belos animais maiores do zoológico, um puma ou uma girafa (…) Não procuram impressionar-nos nem representar para nós. Nada de teatro. São como são (…) Em geral, os animais são tristes (…) e quando um homem está triste (…) porque vê, por uma hora, como é tudo, como é a vida, e está triste de verdade, sempre se parece um pouco com os animais. Então se mostra não apenas triste, mas também mais justo e mais belo que de hábito”

O Lobo da Estepe, Hermann Hesse

Charlotte White

Grand Teton, Charlotte White

A gente não sabe

A gente nunca sabe o que se passa na mente e no coração dos outros.

Os desafetos, desamores
Os desandares, dissabores
As dúvidas, as derrotas
As incertezas e as carências

A gente simplesmente não sabe.

Não sabe, não conhece.

Agimos como aquilo que se vê é aquilo que se é, assim como as transparentes águas.
Mas se mesmo essas escondem perigos e virtudes, o que será daquilo que vemos apenas por fora, pelo que se mostra ser?

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“Caixa de Pandora”, ilustração de Arthur Rackham

Recaídas

Recaídas e caídas que recaem sobre mim
Recaídas que retornam, que retomam, que repetem

Recaídas que cegam, que seguram, que sufocam
Recaídas que apagam a possibilidade do meio termo, do talvez
Que me obrigam a escolher entre o sim ou o não, entre o quente e o frio

Quando na verdade eu sou um talvez, ou, ainda, talvez não

Recaídas e caídas que afogam
Recaídas e caídas que me fazem decidir entre vida ou morte, entre luz ou escuridão, entre dia ou noite

Recaídas e caídas que recaem
E eu, entre o tudo e o nada,
Não escolho nem o tudo,
Nem o nada,
E não percebo que, entre caídas e recaídas
Não sou nem o ar e nem o concreto,
E a não escolha não é uma abstenção
E só recai quem conseguiu levantar novamente.

Abismos

Ao meu redor há abismos. Abismos que engolem quem tenta estar comigo. Abismos que me derrubam quando tento estar com outros.

Ao meu redor há abismos. Abismos que, sob o pretexto de evitar maior envolvimento, acabam por machucar a todos.

Abismos que me mantêm afastada dos outros mas, principalmente, que me mantêm isolada em mim mesma.

Mas como preencher abismos que foram cavados ao longo de uma vida? Abismos que, no passado, eram pontes, portas, caminhos. Abismos que, com o tempo, foram ganhando espaço e se entrelaçando ao que sou.

Hoje, não sei é possível tirar de mim os abismos. Ou talvez seja. Mas não se cobre um abismo simplesmente e espera-se que este passe a ser uma forte ponte. É preciso preenchê-lo pouco a pouco, até que este não seja mais um abismo.

Ao meu redor há abismos. Mas eu não queria que houvesse.

mariana

Fossa das Marianas*

 

 

*A “Fossa das Marianas” é o lugar mais profundo do oceano, atingindo mais de 11 mil metros de profundidade.